A leitura tem sido um fácil alvo de preconceitos mas é um instrumento poderoso para as pessoas desenvolverem as suas competências pessoais e sociais, se usada como mapa para chegar ao tesouro interior de cada um. Se privilegiarmos os aspectos lúdicos e criarmos um ambiente de leveza e responsabilidade, as pessoas naturalmente reconhecem partes da sua essência que estavam soterradas nos mecanismo do dia-a-dia.

É esta a minha experiência de 22 anos a lidar com grupos e indivíduos que se reencontram e se recriam a partir de uma nova forma de olhar para si e para os outros. Através da leitura em voz alta, através da cooperação e da intensa alegria que a criatividade desperta em nós.

A natureza humana é essencialmente criativa. Capaz de criar beleza e de encontrar soluções imprevisíveis para problemas inesperados. Mas a nossa cultura pode ajudar a criar bloqueios e muita gente se queixa disso.

O  forte desejo de domesticar o mundo, de fazer tudo certinho, de controlar os resultados das nossas acções, etc, desagua numa espécie de febre do politicamente correcto e acaba por ter o efeito contrário ao pretendido. Ficamos perros e acabamos por gerar mais entropia, entrando num ciclo vicioso. 

Mas é possível regressar à sensação de liberdade original, recuperar a naturalidade em lidar com o novo. Podemos exercitar a capacidade de brincar e sentir e pensar, isto é, de trabalhar as ferramentas para fluir melhor, para lidar melhor com o mundo.

Para as sociedades funcionarem, precisam de indivíduos livres, leves, responsáveis e esclarecidos, que saibam reflectir sobre a igualdade e sobre a natureza da relação entre o eu e o outro. Indivíduos capazes de trabalhar em equipa, auto-motivados, empáticos e sensíveis à beleza. Mas para isso não nos podem bastar os critérios externos: também precisamos de mergulhar em nós, respeitar e reconhecer a nossa vida interior.  

Espero com este futuro livro contribuir com umas fagulhas para acender a nova sociedade que muitos de nós já estão a criar.