Reconhecer e ser reconhecido.

Acredito que precisamos mostrar-nos, precisamos ser vistos. Precisamos que os outros se mostrem. Precisamos testemunhar e ser testemunhas da nossa vida partilhada nesta casa comum. A sensibilidade, a nós e ao outro, precisa ser resgatada por aqueles que não se esqueceram de quem são, apesar dos tempos que correm. Aqueles que, em paz, assumem o que pensam e o que sentem, mostrando-se.

 

Mas aqueles que não o conseguem fazer não são os maus da fita. Os mais insensíveis são os mais inseguros, os que mais precisam de armadura, os que mais estão à mercê da inconsciência do seu aparentemente bem intencionado ego. Não por serem inferiores mas por terem um caminho diferente a percorrer. O mundo é redondo e todos os caminhos irão dar ao mesmo centro mas neste momento não estamos todos na mesma estrada nem no mesmo ponto do percurso.

 

A sociedade estrutura-se em instituições que são o nosso reflexo. Revelam todo o medo que enquanto corpo colectivo guardamos na memória. Criar espaços e tempos onde seja possível partilharmo-nos sem medo, com confiança, é uma forma de nos treinarmos a exprimir quem somos, para que um dia consigamos fazê-lo em todos os territórios e em frente a quem quer que seja.

 

A transformação individual e social começa em casa. Experimentem falar do que sentem, do que sentiram, de como se imaginam em tal ou tal situação. Mas combinem regras explícitas para tornar as partilhas mais seguras. Não há juizes, apenas testemunhas. Tomem o vosso tempo, respeitem os silêncios. E reparem no clima que se instala. Reparem no que acontece quanto perdemos o medo que alguém nos julgue. Reparem na capacidade de nos maravilharmos uns com os outros, independentemente das diferenças e das semelhanças.

 

A necessidade de identificação é uma fase do desenvolvimento. Quando formos maduros não precisaremos de nos identificar com nada nem ninguém. Essas são as rodinhas da bicicleta para aprendermos, no futuro, a dizer “Eu Sou”, sem mais nada à frente. Nesse dia, descobrimos que o paraíso afinal não está em lado nenhum porque está em todo o lado. Podemos ser o nosso inferno, sim, mas também podemos ser o nosso paraíso. Só precisamos reconhecer-nos.

 

 

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